Velejar

14 de jan. de 2015

   Corri até a beirada. Minhas pegadas ficaram naquela areia. Mas tudo que ali permanecia, em algum momento, se apagava. Talvez fosse o vento, a brisa que atravessava o oceano, ou talvez fosse outras pessoas que por ali passavam. Olhei lá longe, em uma pequena aglomeração rochosa. Não estava enxergando muito bem, minha vista estava um pouco embaçada. Mas sabia que ela estava lá.
   Não sabia como chegar, não conseguiria nadar. Avistei uma canoa alguns passos ao meu lado. Corri até ela. Desta vez o próprio oceano apagava minhas pegadas. Era velha, com alguns pedaços faltando em sua beirada. Mas era o suficiente. Não iria afundar. Não iria me consumir. Enquanto minha canoa, a canoa, nadava pelo mar, no meio daquele frio que estava, ia cortando as lágrimas que a lua estava deixando. Mas não estava piorando. Acho que ajudava.
   Quando cheguei nas rochas a avistei. Do outro lado da pequena ilha. Estava com um vestido verde, bem apagado. Muito parecido com o que eu estava usando. Seu cabelos inquietos com a brisa não descansavam. Cheguei ao seu lado. Não trocamos nenhuma palavra, como de costume. Sentamos e apreciamos o oceano.
   O mundo ficava diferente. Ou era o mesmo? Não sei. Mas com ela minha dor mudava. Trocava de roupa. Talvez seja porque compartilhamos dela. Talvez. "Luna". Ela me chamou. Luna? Luna é o meu nome? Luna era o meu nome para ela. Sempre pensei que minha existência era tão inexistente quanto minha sorte, mas estava errada. Podia não ter nome. Podia não ter nome para o mundo. Para o universo. Mas para ela eu tinha. Para ela eu existia. Finalmente descobri. Eu existo. Para ela, mas era o suficiente.
   "Vivemos para recordar?", ela me perguntava. Não tenho a resposta. Queria dizer não. Vivemos o presente, e apenas. Mas sabia que estava errada. Mas não vivemos para recordar. Acho que não vivemos para algo. Não sei se vivemos. Sobrevivemos. Isso. Até me soa familiar.
   Decidi voltar para casa, ficar no meu quarto. Mirei a canoa na praia e deixei ela tomar seu rumo. Quase o destino. Quando cheguei no meu quarto, na minha cama, acordei. Não que estivesse sonhando, ou dormindo, mas acordei. Tudo voltou. Mas algo estava diferente. Eu me chamava Luna.